domingo, 27 de fevereiro de 2011

"É chuva de verão, Neto."

Eu não gosto de chuvas, só pra começar. Nem se fossem sutis pingos no cocuruto (ao invés dos recorrentes dilúvios) eu gostaria de chuvas. Sempre gera toda uma balbúrdia aterrada como se fosse o último sinal do apocalipse, mães gritando pros filhos as ajudarem a retirar as roupas do varal, mulheres clamando e praguejando em plena manhã de domingo porque suas chapinhas foram corrompidas, castelinhos de areia sendo dissolvidos, bebês chorando, etc. Planos com meses de antecedência são cancelados integralmente desnorteando completamente os envolvidos, aquela peladinha de domingo com churrasco é cancelada, a pegação com aquela bonitinha que mora longe é cancelada, em outras palavras, a vida em geral é cancelada. E os adolescentes medíocres e hipsters que começam a tirar fotos dos pingos de chuva na janela e escrevem poesias sobre isso? Enfim, tudo se torna desditoso diante dessas precipitações torrenciais. Proponho, então, que Deus, na sua magnitude e excepcional sapiência, no momento que for preencher nossa vida com a dádiva da água, o faça subterraneamente, trazendo assim a paz aos homens e a secura de nossos ternos risca-giz caríssimos. Amém.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Qual seu personagem preferido?"

Essa pergunta desencadeia em mim todo um processo regressivo. Sempre tive um personagem favorito em cada época da minha vida, desde criança. Primeiro foi o megaman, eu até sonhava em ser cientista só pra criar robôs como ele. Depois dele veio o quê? Me lembro que foram vários que passaram por mim voando, nem me lembro hoje o nome deles, eram mais um bando de tapa-buracos sentimentais enquanto eu transitava pra outra idade. Então veio o Roland Deschain, personagem principal do épico de Stephen King, A Torre Negra. Um cowboy, com caráter de um cavaleiro medieval, em um lugar que era a junção de todas eras e nenhuma delas ao mesmo tempo. Mais do que um personagem incrível, ele era reflexo direto do progresso de Stephen King como autor e ser humano, mudando a cada novo livro, se tornando um personagem completamente diferente ao chegar no último livro da saga ( são sete livros). Mas hoje ele já não é mais o meu favorito, já passei por toda a transição pela qual Roland passou, não preciso mais dele como guia ao meu lado. Agora o que eu preciso é algo que me ajude a resolver casos, cigarros, mulheres fatais, neons eternamente piscando em noites ásperas. Preciso de uma dose de Scotch e a ajuda do Philip Marlowe pra resolver esses casos desastrosos. Philip Marlowe, detetive particular e resolvedor de encrencas é atualmente meu personagem favorito.
Hamlet, também é um ótimo personagem, Alexandre Martins, mas não meu favorito.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Por que eu gosto de ler livros?"

Me perguntou Alessandro Martins, e eu fiquei perplexo por um longo tempo. Já leio faz tempo. Na verdade, desde que me conheço por gente eu leio. Comecei na Turma da Mônica e hoje converso muito com Dostoiévski. Mas pra te dizer a verdade nunca parei pra me perguntar isso.
Acho que meu gosto por leitura se resume ao ato de conversar. Um belo, longo, e incrível diálogo entre o leitor e o escritor. "Mas quem lê, nada fala, só ouve!" bradam os broncos austeros no cume da montanha empunhando suas espadas de bronze. Ora pois, acalmem-se todos, eis que lhes explico o processo todo: existem coisas que todos nós ansiamos por palestrar, coisas que nos transcendem e que podem transceder outrem, mas que jamais teremos oportunidade de falar por todo tipo de razão. Então, diante da enorme palestra que não podemos cavaquear, o que fazer? Bem, só nos resta escrever, para que talvez algum dia alguém possa ler. E quando esse alguém interpretar o que está escrito, vai ter uma opinião sobre cada linha lida. Se uma opinião ocorre, meus caros, há uma conversa, por mais inaudita que seja, pode ter certeza que há. E sabe qual é a magia disso tudo? O ser que acabou de desbravar as linhas de um texto qualquer, tem o universo expandido porque agora ele sabe não só o que ele conheceu, mas possui consigo também o conhecimento de outrem. E o mundo que antes era só ciano, magenta e amarelo, vai tomando mais e mais cores que se confundem, crescem, e sempre tem algo novo a nos dizer.