segunda-feira, 18 de abril de 2011

O que me leva a comprar um livro?

Quem dera fosse só uma razão que me levasse a comprar livros, assim daria para impedi-la de fazer um rombo no meu salário. Mas é sempre mais de uma, e misturadas homogeneamente. As vezes me atrai primeiro pela capa, aí eu dou uma lida na sinopse, vou me interessando pouco a pouco até ceder e comprar. Ou simplesmente me vêm um súbito amor pela Rússia, e como eu tenho uma flutuante e disforme lista mental de clássicos mundiais (que não sei ao certo quando foi que entrou no meu cérebro), decido que é a hora de se ler um Tchekov ou Tolstói. E como eu não tenho tanto dinheiro assim (graças aos deuses) não posso me dar ao luxo de comprar livros pelo simples ato de comprar. Então sempre termino meus livros, Alessandro.

Em Fahrenreit 451 qual livro eu seria?

Pensando duas vezes, seria 'Crime & Castigo'. Antes eu tinha pensado em ser 'O Longo Adeus', mas depois me dei conta que 'Crime & Castigo' tem um discurso muito mais amplo a ser dito. Discurso esse que se debruça por todos os problemas que impomos a nós mesmos. Como a viciosa moral cujo maior trunfo é a culpa. Que diluida com votos religiosos descabidos e com a família inconcebivelmente desestruturada, levam à um desapego com qualquer tipo de afeto humano. O que explica a situação tétrica que nos encontramos hoje.
Sendo assim, te respondo, Alessandro, que eu levaria na memória os escritos de Dostoiévski. Para que a humanidade fosse mais razoável consigo mesma, e não sofresse por motivos descabidos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre a cobertura midiática da invasão das favelas no ano passado

Li os texto com a cabeça aberta pra possibilidade da minha opinião prévia sobre a cobertura ser mudada, se fosse o caso. Mas não mudou. Ela continuou a mesma só que com mais adendos factuais.

A grande imprensa ultimamente não preza por se aprofundar nos fatos, e sim pelo que a notícia pode render de lucros a ela. Nada mais justo, já que ela é grande e por isso tem muitas bocas pra alimentar quando veicula uma notícia. E convenhamos, o que traz mais lucros: se aprofundar numa matéria gastando tempo e dinheiro no processo de investigação, além da possibilidade de ferir orgulhos e dinheiros de potenciais financiadores, ou transformar um ocorrido num evento extraordinário com montagens cinematográficas? Obviamente é a segunda opção. Até porque o público já está preparado para as imagens, já foi devidamente educado com os dois filmes da saga Tropa de Elite. A receita já estava escrita, era só seguir. E foi exatamente isso que ela fez, e o fez muito bem.

Se serviu pra ajudar na luta contra o crime organizado? Serviu, mas a curto prazo e reduzido espaço. Me explico. Funcionou dentro do Rio e no decorrer da operação. Através de divulgação do Disque-Denúncia, fotos de traficantes, e com apuradores da veracidade de boatos, ajudou ali e naquela hora. Mas apontar traficantes ainda é muito pouco. Eles são só um pequeno pedaço de uma grande parafernália do crime organizado. Precisam ser apontados aqueles que lavam o dinheiro, os chefões que são os que realmente lucram e mantêm o narcotráfico ativo. Além das outras operações pelo Brasil receberem quase nenhuma, ou nenhuma, atenção da mídia.

Sendo assim, como eu já tinha percebido desde a primeira vez que vi o Globocop, a cobertura se mostrou insuficiente. Fazendo o que já fizeram uma vez e insistem em repetir: ao verem o iceberg se aproximando no oceano, fazem um filme do Titanic, ao invés de tirar o navio da rota.

sábado, 2 de abril de 2011

"O máximo de esforço para o mínimo de resultado."

Tem um ventilador aqui em casa que é uma desgraça em particular. Ligo ele na tomada, giro o marcador até a potência máxima, e ele começa rugir como se não houvesse amanhã:

-BROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM!

Aí eu ponho a mão na frente do ventilador e sinto um ventinho de nada. Engraçado. Sabe quem esse ventilador me lembra?

Minha mãe.

Desde que eu era um mulequinho ela já dizia no meu ouvido:

-Meu filho, jamais fale mal de ninguém, viu? Jamais.

Não importa onde ou quando, se ela tinha oportunidade ela soltava essa frase como uma convicção que nenhum Papa jamais teve. Que minha mãe me perdoe, mas é inviável não maldizer os outros vez ou outra. Tanto é, que nem ela resistiu à anos da própria excessiva pregação anti-maldizeres. E um dia desses ela soltou no pé do meu ouvido o seguinte comentário sobre conhecidos que tinhamos acabado de esbarrar:

-Não suporto essa gente mal-educada. Deus me livre viu.

Olhei pra ela e só consegui tecer a seguinte resposta:

-Que calor eim, mãe?